Testosterona: A importância em homens e mulheres
O aumento da
expectativa de vida e o envelhecimento da população têm causado mudanças
na área da saúde, direcionando as pesquisas para o desenvolvimento de
novas metodologias no diagnóstico e tratamento de doenças relacionadas
ao envelhecimento.
Dentre
as alterações mais relevantes observadas com o envelhecimento
populacional está a redução gradual na produção de andrógenos, como a
testosterona, fato que ocorre em homens a partir dos 50 anos e, pelo
paralelo com a menopausa, o quadro tem sido referido como andropausa.
A
testosterona é um hormônio responsável pelo desenvolvimento e
manutenção de características sexuais masculinas, como aumento da massa
muscular, aumento da libido, alteração da voz e aparecimento de pêlos.
Sendo produzida pelos testículos (homens), ovários (mulheres) e
glândulas supra-renais, sua síntese é estimulada pela ação do hormônio
luteinizante (LH), que por sua vez é produzido pela hipófise. Apesar de
ser encontrada em ambos os sexos, um homem produz cerca de vinte a
trinta vezes mais testosterona que a mulher, resultado em uma média de
7,00 mg por dia e 0,25 mg por dia, respectivamente.
Após
ser produzida, a testosterona circula pelo organismo quase em sua
totalidade ligada a proteínas e apenas uma pequena fração (2% a 3%)
circula livremente no organismo. Dentre as proteínas sanguíneas ligadas
à testosterona estão a SHBG (sigla em inglês para Globulina Ligadora de
Hormônios Sexuais) e Albumina. No homem, a testosterona circula 44% a
65% ligada à SHBG e 33% a 50% ligada à albumina, já nas mulheres a
proporção é de 66% a 78% e de 20% a 30%, respectivamente. A ligação da
testosterona à SHBG é de alta afinidade, impedindo que a mesma tenha
capacidade de desempenhar sua função, o que não ocorre com a ligação com
a albumina. Desta forma a fração de testosterona sanguínea considerada
biodisponível, ou seja, com capacidade de desempenhar seu papel, é a
soma da testosterona livre com a fração ligada à albumina.
Com
o envelhecimento, a capacidade do organismo de produzir testosterona
reduz gradativamente tanto em homens quanto em mulheres, porém, a
redução é mais acentuada em homens (cerca de 1% ao ano em homens com
mais de 50 anos) e tal fato é acompanhado por um aumento da SHBG, o que
reduz ainda mais os níveis de testosterona biodisponível. O processo de
redução dos níveis de testosterona no envelhecimento masculino é
conhecido como andropausa ou mais apropriadamente hipogonadismo
masculino tardio e afeta aproximadamente 20% dos homens acima dos 60
anos.
O
tabagismo, alcoolismo crônico, uso de alguns medicamentos, doenças
cardiovasculares, diabetes, hipotireoidismo, doenças hepáticas, renais e
reumáticas podem contribuir para redução na dosagem de testosterona
sanguínea.
As
alterações clínicas da redução de testosterona são semelhantes, em
alguns aspectos, em homens e mulheres e são influenciadas por diversos
fatores os quais dificultam a detecção dos sinais e sintomas
clinicamente, sendo eles:
- Diminuição da libido.
- Disfunção erétil
- Diminuição do volume testicular
- Redução da densidade mineral óssea, resultando em osteopenia e osteoporose, o que em alguns casos, justifica o tratamento com terapia de reposição hormonal de testosterona.
- Diminuição da performance cognitiva, que se manifesta na forma de alterações do humor, redução da capacidade intelectual, redução na habilidade de orientação espacial e aumento da irritabilidade.
- Diminuição do tecido muscular e aumento do tecido fibroso muscular, reduzindo em alguns aspectos a força muscular.
- Aumento do tecido adiposo total e redistribuição de gordura: vários autores reportaram uma correlação inversa com níveis de testosterona, sugerindo que a queda de níveis de testosterona teria um papel causal no acúmulo de gordura visceral e desenvolvimento do perfil lipídico aterogênico, ligados ao envelhecimento masculino.
- Depressão: níveis de testosterona biodisponível foram 17% mais baixos em homens entre 50 e 89 anos com depressão.
- Irritabilidade.
- Insônia, sudorese e diminuição da sensação de bem estar geral.
Estudos
recentes demonstram a importância da testosterona em mulheres uma vez
que aos 40 anos a concentração de testosterona é cerca de 15% menor, se
comparada a mulheres jovens. Outro dado relevante é que esta redução
está ocorrendo cada vez mais cedo, em mulheres dos 20 aos 40 anos e
dentre os fatores relacionados a esse fato está a alteração do estilo de
vida da mulher: jornada de trabalho, pressão e stress são um dos
fatores associados à queda na concentração de testosterona em mulheres
sexualmente ativas. Um agravante é que os sintomas acima descritos,
principalmente em mulheres jovens são muitas vezes associados ao ciclo
menstrual e são, por vezes, ignorados.
Especificamente
em mulheres, os sintomas relacionados ao quadro são diminuição do
humor, com diminuição do bem-estar pessoal no dia-a-dia, substituição da
massa muscular por gordura abdominal, diminuição da elasticidade e
brilho da pele, diminuição da lubrificação vaginal, aumento da
irritabilidade e insônia.
Após
os 40 anos, quando cerca de 30 a 50% das mulheres apresentam sintomas
relacionados à redução de testosterona (sendo que durante a menopausa a
concentração de testosterona cai até 50%), é que os sintomas acima
descritos são investigados para acompanhamento da menopausa e pode-se
então detectar a possível causa dos sintomas aqui apresentados e da
diminuição na qualidade de vida da mulher, oriundas da redução dos
níveis de testosterona.
Níveis
elevados de testosterona em mulheres adultas estão associados a
hirsutismo (aumento excessivo de pêlos), virilização, pele densa, e
irregularidade menstrual.
Como
pode ocorrer variações na concentração de testosterona principalmente
em homens acima dos 50 anos, deve-se realizar duas coletas em dias
alternados entre 8:00h e 11:00h, para confirmar o diagnóstico de redução
dos níveis de testosterona, além da associação com as alterações
clínicas acima descritas.
Vale
ressaltar que a diminuição de níveis de testosterona é apenas um dos
fatores responsáveis pelos sintomas do envelhecimento que têm origem
multifatorial. Por essa razão, o diagnóstico da deficiência da
testosterona no envelhecimento deve ser baseado na sintomatologia
clínica e na dosagem de níveis sanguíneos matinais de testosterona. Uma
vez confirmada a deficiência na produção de testosterona, o tratamento e
a terapia de reposição hormonal deverão ser orientados e acompanhados
por médico especialista na área.
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