Beneficiados pelo tratamento com altas
doses de Vitamina D contra esclerose múltipla tem divulgado a informação
da terapia a outros pacientes que sofrem da mesma doença. A terapia,
segundo os beneficiários, apresenta resultados rápidos e eficientes na
redução dos sintomas da doença, ajudando-os a superá-la e ter uma vida
normal e sem sequelas.
A esclerose múltipla é uma doença
autoimune, na qual o sistema imunitário do próprio corpo ataca a bainha
de mielina do sistema nervoso central, que é composto pelo cérebro e a
medula espinhal. No Brasil, estima-se que 50.000 pessoas são afetadas
pela doença, de acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla
(ABEM). A doença afeta geralmente jovens entre 20 a 40 anos.
O jornalista, Daniel Cunha, de 27 anos,
foi diagnosticado com a doença no final de 2009. Durante os seis meses
de tratamento convencional, ele experimentou uma depressão devido aos
efeitos colaterais do tratamento convencional, que é ministrado por meio
de injeções periódicas. Após este período, ele conheceu o tratamento
com vitamina D, prescrito pelo neurologista Dr. Cícero Galli Coimbra,
que também é professor e pesquisador na Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP).
Em 2010, o jornalista começou o
tratamento com vitamina D, que gerou bons resultados, segundo ele.
Imediatamente, Daniel se questionou sobre o tratamento não ser
divulgado. Por ser jornalista e motivado em divulgar o tratamento, ele
fez um documentário lançado em abril deste ano, que já teve mais de 150.000 acessos no You Tube e criou um blog para que as pessoas pudessem se manter informadas sobre o tratamento.
“Hoje recebo muitos e-mails por dia …
tem um monte de pessoas que comentaram o vídeo. As pessoas [beneficiadas
pelo tratamento] se unem porque todas tiveram melhoras e querem
difundir o conhecimento para outras pessoas”, disse Daniel.
Outro paciente, o engenheiro ambiental e
surfista de 31 anos, Marcelo Claudio Bergamo de Palma, que apresenta
seu depoimento no vídeo feito por Daniel, foi diagnosticado com a doença
em 2008, e hoje leva uma vida normal graças ao mencionado tratamento
com doses elevadas de vitamina D.
“Passei por diversas internações de
pulsoterapias para receber medicação (corticóides) intravenosa e
utilizei poucos meses do tratamento convencional com aplicações diárias
de Copaxone. Após iniciar o tratamento com vitamina D, abandonei o
tratamento convencional e nunca mais precisei de pulsoterapia. Nos
exames de ressonância magnética as lesões regrediram ou desapareceram e
não houveram mais lesões novas ou em atividade, o que mostra que a
doença está em remissão permanente. Hoje minha vida é normal, com
trabalho e atividades físicas”, disse o engenheiro.
Segundo Marcelo, pacientes da Europa e
América do Norte, vem atualmente para o Brasil receber o tratamento
prescrito pelo Dr. Cícero.
Tratamento convencional
O tratamento convencional da esclerose
múltipla, oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, é feito
por medicamentos chamados interferons.
A ABEM informa que o tratamento de
esclerose múltipla pode ser subdividido em quatro tratamentos, conforme a
evolução da doença: surto, modificadores da evolução da doença,
sintomático e reabilitacional.
Para o surto, se utiliza habitualmente
pulsoterapia com glicocorticoides, que são anti-inflamatórios hormonais e
visam abortar a atividade inflamatória e, com isto, o evento
sintomático.
Os modificadores da evolução da doença
visam minimizar os surtos na intensidade e frequência, com isto
acarretando menos acúmulos lesionais (em nível de sistema nervoso) e
concomitantemente menos acúmulo de incapacitações.
O tratamento sintomático visa amenizar e
tornar mais toleráveis os sintomas vigentes. A reabilitação trabalha
concomitantemente melhorias funcionais, melhorando funções deficitárias,
adaptando e melhorando a qualidade de vida do paciente.
“[A efetividade do tratamento dos]
modificadores da evolução da doença tem uma eficácia de 30-40%
(interferons e acetato de glatirâmer). Já as medicações mais novas [tem
eficiência] em torno de 68% (natalizumabe e fingolimod)”, informou a
ABEM.
O gasto mensal de um paciente com
esclerose múltipla varia de R$ 2.300,00 a R$ 5.700,00 com o
interferon-beta ou acetato de glatirâmer, segundo o portal da UNICAMP.
O tratamento com Vitamina D
O tratamento com altas doses de vitamina
D é conhecido e estudado pela comunidade científica há mais de 40 anos,
com mais de 3.700 estudos publicados em revistas científicas.
“A vitamina D é um hormônio esteróide
que controla 229 funções (genes) dos órgãos humanos. A falta desta
substância pode causar doenças autoimunes ou não autoimunes”, afirma o
Dr. Cícero.
O tratamento não se limita somente a
esclerose múltipla. É usado também em outras doenças autoimunes, tais
como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, psoríase,
vitiligo, tiroidite de Hashimoto, entre outras. Algumas doenças não
autoimunes, como câncer, tuberculose, depressão e esquizofrenia também
podem ser melhoradas com o uso deste tratamento.
A vitamina D é uma substância produzida
durante a exposição solar. O médico alerta que devido ao estilo de vida
moderna, as pessoas possuem baixo nível de vitamina D em seus
organismos.
“As pessoas estão se escondendo do sol,
durante o trabalho ou dentro de casa, fazem compras em locais fechados e
usam insulfilm nos vidros dos carros com medo da violência urbana”,
afirma.
Além disso, “a vitamina D não é
restaurada pela alimentação, ou o valor é muito baixo para permitir a
sua substituição no nível apropriado”, afirma o médico.
Segundo o doutor, estudos mostram que,
se apenas 5.000 unidades diárias de vitamina D fossem substituídas nos
corpos de população adulta, os casos de câncer poderiam cair para 40%.
Polêmica na comunidade médica
O tratamento de esclerose múltipla e
outras doenças com altas doses de Vitamina D tem gerado polêmica na
comunidade médica. Alguns médicos alegam que este tratamento não deve
ser ministrado isoladamente e que o tratamento convencional usando
interferons deve continuar.
“O que está se focando sempre agora é
que ‘estou bem porque não estou tendo surtos’, mas isso não é a única
leitura da doença”, diz a presidente da Sociedade Gaúcha de Neurologia e
Neurocirurgia, Dra. Maria Cecília Vecino, ao G1. Ela afirma que o
tratamento com vitamina D pode ser usado como complemento ao tratamento
convencional, com interferons.
O Centro de Atendimento e Tratamento de
Esclerose Múltipla (CATEM) no editorial de junho deste ano alertou que o
tratamento convencional deve ser mantido, podendo repor doses de
Vitamina D nos casos em que as pessoas tenham níveis inadequados deste
hormônio em seus organismos.
“Não há até hoje sequer um artigo que
demonstre o efeito terapêutico da vitamina D no tratamento da esclerose
múltipla”, alega a CATEM em seu editorial de junho.
Entretanto, uma busca de artigos
científicos relacionando as expressões “Vitamina D”, “esclerose
múltipla” e “terapia” resultam em 58.319 estudos no portal científico Scirus.
O Dr. Cícero, quando questionado sobre a
efetividade de seu tratamento afirmou categoricamente “[Com este
tratamento com altas doses de vitamina D] a doença é desligada”.
Ele também afirma que muitos médicos têm
resistência a adotar novos tratamentos e podem enfrentar interesses
econômicos das empresas farmacêuticas, fabricantes de medicamentos de
alto custo para o tratamento da esclerose múltipla.
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