quinta-feira, 20 de dezembro de 2012



A vitamina B1 - tiamina - é contra indicada no câncer porque aumenta a proliferação celular maligna via ciclo das pentoses : contra-indicação formal
José de Felippe Junior
A tiamina (vitamina B1) é metabolizada em tiamina pirofosfato, cofator da enzima transcetolase, que está envolvida na síntese da ribose. A ribose é a molécula viga-mestre da da purina e da pirimidina necessárias para a síntese de RNA e de DNA elementos sem os quais não há proliferação celular maligna. Outros efeitos da tiamina é aumentar tanto a síntese de transcetolase como a sua atividade (Cascante – 2000, Comin-Anduix - 2001).
Nos pacientes com câncer é comum a deficiência de vitamina B1 e os médicos não hesitam em prescrever fartas quantidades da vitamina. Entretanto, geralmente a deficiência é provocada não pela diminuição da ingestão e sim pelo excesso de consumo que ocorre na intensa proliferação celular maligna. A tiamina é um incentivo proliferativo.
Desde o trabalho de Basu em 1976, sabe-se que os pacientes com câncer apresentam deficiência de vitamina B1, porque os tumores em desenvolvimento retiram da circulação sangüínea toda tiamina disponível. Isto explica porque os pacientes com cânceres hematológicos de rápido desenvolvimento apresentam sinais e sintomas de deficiência de tiamina como por exemplo a insuficiência cardíaca (Van Zaanen – 1992). Nestes casos a prioridade permite o uso da vitamina mitótica.
As céluas tumorais utilizam a via oxidativa da glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) para a produção de ribose, porém a principal via de síntese de ribose para a formação dos ácidos nucleicos , peças fundamentais da replicação celular, é a via não oxidativa da transcetolase (Horecker -1958, Katz -1967, Boros -1967, Macallan - 1998).
Recentemente demonstrou-se que a transcetolase e seu cofator tiamina são cruciais para o desenvolvimento do tumor de Ehrlich (Cascante – 2000). Desta forma a modulação da transcetolase a qual controla o fluxo de substratos através do ramo não oxidativo do ciclo das pentoses poderia ser útil no controle do câncer.
Os estimulantes da transcetolase , como a tiamina da dieta, mantém a sobrevida da célula tumoral e a sua proliferação e infelizmente os pacientes com câncer continuam a ingerir esta vitamina, sob as vistas dos seus médicos que desconhecem esses efeitos. Segundo Boros a tiamina é um suplemento administrado com grande freqüência pelos médicos aos pacientes com câncer, como profilático de deficiência nutricional (Boros – 1998).
Papel das reações do ciclo das pentoses na síntese de ácidos nucleicos da célula tumoral
A função clássica do ciclo das pentoses nos mamíferos é a produção de NADPH através de um fluxo de carbonos provenientes de açúcares com 6 carbonos (hexoses) para açúcares com 5 carbonos (pentoses). As pentoses são a seguir recicladas de volta à glicólise em reações não oxidativas do ciclo das pentoses pelas enzimas: transcetolase, transaldolase, aldolase e isomerases.
Chesney em 1999, mostrou em oito tipos diferentes de tumores que as reações não oxidativas do ciclo das pentoses desempenham papel central na proliferação celular devido a produção de 5-fosforibosil-1-pirofosfato diretamente dos metabolitos glicolíticos.
Cheng em 1999, mostrou que os pacientes com carcinoma epidermoide que apresentam baixa atividade de G6PD nos seus tumores apresentam pobre prognóstico o que revela que a transcetolase é mais importante que a G6PD na fisiologia tumoral.
Outro trabalho que mostra a importância da transcetolase é o de Boros em 1997, onde revela que a oxitiamina, um inibidor não competitivo da transcetolase, provoca parada da proliferação celular e da síntese de ribose in vitro e in vivo. Em 1999, Rais mostra que a oxitiamina induz drástica parada do ciclo celular na fase G0-G1 no tumor de Ehrlich de camondongo.
Vias de síntese de ácidos nucleicos nas células tumorais
São duas as principais enzimas que regulam a via oxidativa do ciclo das pentoses a glucokinase (enzima da primeira reação da glicólise anaeróbia) e a glicose-6-fosfato desidrogenase (enzima da primeira reação do ciclo das pentoses). A enzima que regula a via não oxidativa é a transcetolase (enzima limitante da principal reação). As outras enzimas, transaldolase, epimerase e isomerases, têm pouca importância no fluxo de carbonos do ciclo.
A forte ação controladora da transcetolase sobre a proliferação do tumor de Ehrlich faz da via não oxidativa do ciclo das pentoses um novo alvo terapêutico no câncer: inibir a síntese de ribose (Cascante – 1999) . Como a G6PD não possui muita importância na formação de ribose , inibidores da G6PD como a dehidroepiandrosterona apresentam somente leve eficácia terapêutica (Boros – 1997).
A função da transcetolase é estritamente dependente da presença de tiamina e o seu excesso coloca o paciente com câncer em grande desvantagem. Deste modo o excesso de tiamina a qual promove tanto a síntese da enzima transcetolase como o aumento da sua atividade deve ser contra-indicada nos pacientes com câncer. Se porventura houver um aumento de 100% da atividade da transcetolase a velocidade de síntese de ribose e a proliferação tumoral aumentam quase 60% cada uma.
No tumor de Ehrlich de camondongo a administração de tiamina na dose 25 vezes ao RDA estimula em 164% o crescimento tumoral comparado ao controle que não recebeu a vitamina B1 (Comin-Anduix – 2001).
Estudos utilizando glicose marcada com isótopo de carbono em vários tipos de tumores experimentais, tanto in vivo (tumor de Yoshida) como in vitro (HeLa , Mia e Hep G2), demonstram sem sombras de dúvidas que é a parte não oxidativa do ciclo das pentoses que desempenha a principal função de síntese dos ácidos nucleicos (Horecker -1958, Katz -1967, Boros -1967, Macallan - 1998). Mais de 70% da ribose nestes tumores são derivadas da via não oxidativa do ciclo das pentoses, isto é dependem da transcetolase e somente 10 a 15% são derivadas da G6PD , via oxidativa do ciclo das pentoses.
Em tumores de pulmão composto por células do carcinoma epitelial humano H411, demonstrou-se que 99% da síntese de ribose era proveniente da via transcetolase (Boros – 2000).
A intensa utilização de ribose para a síntese de nucleotideos purínicos foi demonstrado nos quatro tipos de leucemia: leucemia linfoide aguda , leucemia linfoide crônica, leucemia mieloide aguda e leucemia mieloide crônica (Becher – 1978). Tais achados também foram confirmados em células humanas do tumor colo-retal (Butler – 1998).
A oxitiamina, um inibidor não competitivo e irreversível da transcetolase, diminui os níveis de DNA e RNA de células do tumor de Ehrlich e reduz a fração de ribose dos ácidos nucleicos em células do adenocarcinoma pancreático humano. Ambas alterações são seguidas de grande diminuição da proliferação celular devido à parada do ciclo celular na fase G1.Não há sinais de toxicidade ou de lesões de células tumorais provocados pela oxitiamina , simplesmente ocorre parada da mitose seguida de apoptose. Qualquer célula maligna ou normal quando pára de se reproduzir , vive um determinado tempo e em seguida é eliminada por apoptose.
A vitamina B1 aumenta a proliferação de células do endométrio humano (La Selva – 1996), de células do neuroblastoma (Bettendorff – 1996) e de células de tumor hepático (Lee – 1998).
É muito interessante o fato que alimentos ricos em tiaminase, enzima que degrada a tiamina são tidos como benéficos nos pacientes com câncer. São exemplos de alimentos ricos em tiaminase: peixe crú, peixe crú fermentado, o molusco comestível : vieira ou concha de romeiro ou vieira de São Tiago, fígado de truta, casca do trigo, noz de bétele ou béte (planta sarmentosa e aromática da família das piperaceas - Piper chavica betel - , originária da Índia cuja noz vermelha é empregada em tinturaria e muito usada pelo povo indiano para mascar) e insetos tostados (África e Ásia). Os peixes mais ricos em tiaminase são o bordalo (“dace”) e o arenque do Báltico.
O fitoterápico cavalinha (Equisetum arvense) é rico em tiaminase, o antibiótico metronidazol converte-se em um análogo da tiamina que é antagonista da vitamina B1 e existem bactérias produtoras de tiaminase: Bacilus thiaminoliticus, Clostridium sporogenes, e outras bactérias que podem infectar o homem e produzir um quadro agudo de beriberi. A larva de Anaphe venata Butler (Lepidoptera) e o molusco Anodonta cygnea provocam muitos casos de beriberi agudo na Ásia. Outro elemento rico em tiaminase é o fungo Lentinus edodes (Berg).
Alimentos ricos em Tiamina ( Vit. B1 em mg )

Alimento ( 100 gramas )
mg de vit. B1
Levedo de cerveja 13,3 (1 colher de chá)
Farelo de arroz 3,0 (2 colheres de sopa)
Cevada seca 2,7 (1 colher de sopa)
Semente de girassol seca 2,6 (2 colheres de sopa)
Germe de trigo 1,7 (3 colheres de sopa)
Aveia em flocos 1,3 (1 colher de sopa)
Pinhão cozido 1,3 (1 xícara)
Castanha do Pará 1,0 (30g)
Semente de gergelim seca 0,75 (2 colheres de sopa)
Amêndoa 0,6 (30g)
Granola 0,6 (2 colheres de sopa)
Farinha de trigo sarraceno 0,6 (2 colheres de sopa)
Farinha de soja integral 0,5 (2 colheres de sopa)
Avelã 0,5 (30g)
Pistache torrado 0,5 (30g)
Farinha de trigo integral 0,45 (2 colheres de sopa)
Pão de centeio 0,41 1 fatia
Quinoa 0,36 (1 colher de sopa)
Grão de bico 0,31 (1 concha)
Milho verde 0,25 (1 espiga)
Amêndoa 0,24 (1 porção)
Feijão 0,22 (1 concha)
Arroz integral 0,1 (½ xícara)

Conclusão
A dose de tiamina necessária somente para corrigir a sua deficiência já é suficiente para estimular o crescimento do tumor.
Nunca vi na prática clínica, médicos ou nutricionistas se preocuparem com a vitamina B1 no câncer. Dispomos das drogas mais modernas para o tratamento do câncer, os aparelhos mais sofisticados e continuamos a administrar tiamina. Vamos estudar juntos e aprender .
Os professores de medicina mais dedicados e humanos nos ensinam que : “Em primeiro lugar, o médico não deve causar danos”.
“Primun non nocere”

Referências Bibliográficas:
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